03 agosto, 2006

MBB - Música Boba Brasileira

Também pode ser traduzida como Música Boçal Brasileira

O que eu não gosto na música brasileira é que é tudo vagina music.

Sempre tive atração pelos momentos mais explosivos de Beethoven e Wagner, e para pessoas com a minha diposição a MPB não oferece nada. Ela é, digamos, desmilingüida. É música para mulher; e para uma mulher especialmente boba ainda por cima. Caetano Veloso é uma espécie de Alanis Morissette de saia. Você não consegue extrair uma música agressiva dele nem se subir no palco e ficar dando petelecos em seu nariz. Ele vai xingar, e unhar, e falar mal de você em uma entrevista da Ilustrada. Mas logo depois vai abraçar você chorando e começar a cantar baixinho no seu ouvido, fazendo cafuné.

No Brasil, músicos reservam toda a agressividade que tem para entrevistas, não para o palco. Você poderia, por exemplo, subir no palco, dar um tapão no chapéu de Tom Jobim, arrancar o charuto da boca dele e começar a dar cutucadas com este charuto em todas as mulheres do coro, que nem assim ele iria parar de cantar sobre as belezas da Mata Atlântica. Toda MPB é assim.

São tantos sentimentos delicados.

Nunca vou esquecer o choque de ter visto um cantor negro gigantesco cantando algo como "ai, doeu, dessa vez doeu demais"! Pagodeiros têm tanta virilidade quanto Enya. E quando aparece algum sentimento agressivo numa música, é tão imponente quanto, sei lá, um cachorro salchicha usando luvas de boxe. A música não tem cojones.

Quanto ao rock brasileiro, ele soa como um rock falso inventado para uma propaganda de Pepsi. Sabe essas propagandas que mostram um show de rock de uma banda fictícia? E eles começam a tocar uma música que é meio que uma versão sem graça de uma música que já não era boa?

E não é nem Coca, nem Pepsi.

Sempre me pareceu que a vitalidade dos americanos em termos de cultura popular veio do fato de que no século 20 eles aprenderam a tratar a violência de forma não realista. Eles a estilizaram, e assim, criaram o conceito de cool. No mundo inteiro você vê intelectuais sequinhos e mesquinhos reclamando disso - que a violência deve ser tratada de forma realista, para que gente muito proveitosamente aprenda que ela é sórdida e doída. A cara de desprezo e desgosto de diretores de cinema do leste europeu, do Brasil, da Guatemala e de todos esses lugares esculhambados, reclamando dos esguichos de sangue de Kill Bill Vol. 1!

Walter Salles disse, reclamando que o seu filme de Che Guevara não ganhou em Cannes: "Não foi uma surpresa, no sentido em que não há nenhuma interseção entre o cinema que fazemos hoje na Améria Latina e o cinema que Tarantino representa". Claro que não há; antes houvesse. É essa mesma agressividade estilizada de Tarantino que dá toda a graça aos faroestes, aos filmes noir, aos romances de Raymond Chadler e Elmore Leonard, e finalmente ao rock.

Mas fora dos Estados Unidos e Japão, a violência é quase sempre tratada de forma realista. Todos os diretores brasileiros, e escritores, e rappers só sabem tratar a violência de forma realista e sem graça. Os outros, músicos principalmente, evitam a agressividade e se atêm aos sentimentos doce. Brasileiro não sabe estilizar a violência. Não há rock, não há agressividade.

Só nos resta falar de namorico mesmo; e de vez em quando, para variar, de riacho doce, sapoti, pupunha, buriti, resto de toco e toco sozinho, tucutumã, tucunhati (inventei essas duas), caingá, cunhã, candeia - e mais um monte de coisa que honestamente em nem sei se é bicho ou planta, e cuja listagem em letras de música faz adomercer os sacis nas matas - suas barriguinhas para sempre subindo e descendo ao ritmo das cuiquinhas.

Alexandra Soares da Silva, do blog soaressilva.wunderblogs.com
Publicado na revista Bravo!, junho de 2006

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