A internet funciona como um espaço livre, que permite a qualquer pessoa manifestar suas idéias – até mesmo as mais controversas? Nada nisso, na opinião do escritor, artista e ativista digital Fran Ilich. “Acho que existem muitos mitos sobre a web que temos de rever: o fato de ser democrática ou transparente ou educativa”, acredita. “Há muita censura, invisível para a gente que vive nas cidades, mas muito sofisticada.”
Ilich vive no México e esteve no Brasil na semana passada para participar do Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito. O evento foi promovido em São Paulo pelo Instituto Itaú Cultural. Em seus projetos, ele procura dar voz a populações excluídas, movimentos sociais e grupos organizados de esquerda, como o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Por isso mesmo, vê de perto as dificuldades de expressar idéias que fogem do convencional.
Poucos dias atrás, por exemplo, Ilich conta que uma lista de discussão criada por zapatistas e simpatizantes do movimento foi deletada pelo Yahoo! México. Sem alegar qualquer motivo, a empresa desativou a conta de e-mail do moderador do grupo, criada em fevereiro deste ano.
Segundo Ilich, assim como nesse caso, o tipo de censura que existe na rede atua de maneira sutil, às vezes levando o usuário atingido a procurar centrais de atendimento ao consumidor sem nunca ter sucesso.
A situação pode ficar ainda pior, de acordo com o ativista, se for adiante a idéia de acabar com a neutralidade da web. Há um projeto em discussão nos Estados Unidos que permitiria, em linhas gerais, que provedores pudessem bloquear ou limitar o acesso a sites que não fossem seus parceiros. Para contornar isso, as empresas ou os donos de homepages afetadas teriam de pagar um pedágio. “Isso deixa muito claro o futuro da internet: uma superestrada da informação ao lado de uma estrada de lama.”
Por essas e outras, Ilich acha que a única saída é lutar. “A rede deveria ser um patrimônio da humanidade, não o patrimônio de alguém”, destaca. “Nesse sentido, nas ruas das cidades existem espaços públicos, mas o mesmo não ocorre com a internet. Você tem espaços ‘.net’, que são redes, ‘.edu’, que são escolas e universidades, ‘.gov’, que são os governos – mas não há algo que seja neutro. Tudo é propriedade.”
A saída encontrada pelo artista foi criar um servidor (micro ligado à rede que abriga homepages) autônomo, o Possibleworlds.org. “Começamos a construir esse computador, que já são vários PCs, e estamos hospedando revistas culturais, escultores, músicos, instituições culturais de gente que diz ‘Ei! Não queremos estar nesses serviços comerciais! Queremos nossa própria internet!’”
Também está abrigada ali uma comunidade virtual fechada que contém muitos dos trabalhos de Ilich. Entre as obras há uma telenovela com temática social, a Telenouvelle Vague, que conta o reencontro de dois irmãos separados pelos militares há 30 anos, quando crianças.
Outra idéia de Ilich foi o projeto La Actriz Interactiva, um reality show no qual as ações cotidianas de uma atriz eram decididas pelos usuários durante três meses – com a diferença de que os temas giravam em torno de código aberto, transparência, democracia e eleições. Quem quiser ter acesso a esse conteúdo precisa pagar US$ 12 por ano.
O servidor recebe cerca de 3.000 visitantes diários.
A iniciativa procura dar apoio à Sexta Declaração da Selva Lacandona, documento divulgado pelos zapatistas em junho de 2005 que faz um balanço do movimento e indica os passos a seguir. Desde dezembro, quando começou a funcionar, o Possibleworlds.org já sofreu uma série de ataques que o tiraram do ar. Nem por isso Ilich pensa em desistir. “A luta é conquistar um pedaço de internet onde possamos criar, onde possamos colocar nossas páginas”, diz. “Isso, para mim, já é difícil. Se conseguir, ganhamos.”
Fonte
Ilich vive no México e esteve no Brasil na semana passada para participar do Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito. O evento foi promovido em São Paulo pelo Instituto Itaú Cultural. Em seus projetos, ele procura dar voz a populações excluídas, movimentos sociais e grupos organizados de esquerda, como o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Por isso mesmo, vê de perto as dificuldades de expressar idéias que fogem do convencional.
Poucos dias atrás, por exemplo, Ilich conta que uma lista de discussão criada por zapatistas e simpatizantes do movimento foi deletada pelo Yahoo! México. Sem alegar qualquer motivo, a empresa desativou a conta de e-mail do moderador do grupo, criada em fevereiro deste ano.
Segundo Ilich, assim como nesse caso, o tipo de censura que existe na rede atua de maneira sutil, às vezes levando o usuário atingido a procurar centrais de atendimento ao consumidor sem nunca ter sucesso.
A situação pode ficar ainda pior, de acordo com o ativista, se for adiante a idéia de acabar com a neutralidade da web. Há um projeto em discussão nos Estados Unidos que permitiria, em linhas gerais, que provedores pudessem bloquear ou limitar o acesso a sites que não fossem seus parceiros. Para contornar isso, as empresas ou os donos de homepages afetadas teriam de pagar um pedágio. “Isso deixa muito claro o futuro da internet: uma superestrada da informação ao lado de uma estrada de lama.”
Por essas e outras, Ilich acha que a única saída é lutar. “A rede deveria ser um patrimônio da humanidade, não o patrimônio de alguém”, destaca. “Nesse sentido, nas ruas das cidades existem espaços públicos, mas o mesmo não ocorre com a internet. Você tem espaços ‘.net’, que são redes, ‘.edu’, que são escolas e universidades, ‘.gov’, que são os governos – mas não há algo que seja neutro. Tudo é propriedade.”
A saída encontrada pelo artista foi criar um servidor (micro ligado à rede que abriga homepages) autônomo, o Possibleworlds.org. “Começamos a construir esse computador, que já são vários PCs, e estamos hospedando revistas culturais, escultores, músicos, instituições culturais de gente que diz ‘Ei! Não queremos estar nesses serviços comerciais! Queremos nossa própria internet!’”
Também está abrigada ali uma comunidade virtual fechada que contém muitos dos trabalhos de Ilich. Entre as obras há uma telenovela com temática social, a Telenouvelle Vague, que conta o reencontro de dois irmãos separados pelos militares há 30 anos, quando crianças.
Outra idéia de Ilich foi o projeto La Actriz Interactiva, um reality show no qual as ações cotidianas de uma atriz eram decididas pelos usuários durante três meses – com a diferença de que os temas giravam em torno de código aberto, transparência, democracia e eleições. Quem quiser ter acesso a esse conteúdo precisa pagar US$ 12 por ano.
O servidor recebe cerca de 3.000 visitantes diários.
A iniciativa procura dar apoio à Sexta Declaração da Selva Lacandona, documento divulgado pelos zapatistas em junho de 2005 que faz um balanço do movimento e indica os passos a seguir. Desde dezembro, quando começou a funcionar, o Possibleworlds.org já sofreu uma série de ataques que o tiraram do ar. Nem por isso Ilich pensa em desistir. “A luta é conquistar um pedaço de internet onde possamos criar, onde possamos colocar nossas páginas”, diz. “Isso, para mim, já é difícil. Se conseguir, ganhamos.”
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2 comentários:
SENSACIONAL ESSE POST,HAZZAMANAZZ! PARABÉNS,CARA! UM ABRAÇO,MIGUEL.
Hazzamanazz, eu de novo!
Cara, eu tenho um recorte de jornal - O Globo - que fala sobre internet. O assunto não é o mesmo que esse que você postou,mas é muito bem escrito e fala sobre o uso maciço da comunicação eletrônica e suas consequências.
É de tamanho médio e eu gostaria de saber se posso enviar para o seu e-mail para você postar aqui? Um abraço,cara! Miguel
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