17 dezembro, 2006

Esse é o teu país...mané!

Ler o jornal desanima (e saber que “19 Assembléias seguem exemplo do Congresso e sobem os salários” ). Sair na rua desanima.

Ao meio-dia, fui com minhas duas filhas relutantes apitar e bater panela na avenida perto de casa. A mais nova reclamou: “Protestar contra o que?”. “Contra os deputados aumentarem o salário deles de 12 para 24 mil”. “Por que eu? Eu não entendo nada disso!”. Diante de tanta má-vontade, a mais velha acabou se animando para brigar com a irmã: “Não entende que 24 é muito mais do que 12? Não consegue imaginar o que é 24 mil todo mês? Um carro por mês?”.

Saímos com a idéia de comprar metros de fita preta e oferecer às pessoas, para amarrarem no braço ou na antena do carro. “Se me perguntarem por que eu estou fazendo isso, o que eu digo?”. A mais velha outra vez, meio galhofeira: “Que o Ghandi falou que a gente tem de ser a mudança que quer ver no mundo”. “Ahn”?

Pegamos apitos e uma tampa de panela. Dois pedaços de papel com os básicos “90% NÃO”. Elas com vergonha, eu também. Sou péssima pra vender rifa, pedir voto e abordar as pessoas. Azar, vamos lá. A caçula deu uma última provocada: “Se me perguntarem por que eu estou fazendo isso, vou dizer: “Porque minha mãe mandou”.

Bairro de classe média, muitos prédios e pouca gente na calçada. Chegamos à rua de comércio e fizemos nosso barulho. Reações: caras de indiferença, desprezo ou ironia. Interesse? Nenhum. Normal, eu não achei mesmo que ia ser fácil. Mas também não pensei que adesões seriam tão difíceis.

Na primeira parada na papelaria, onde cortamos os pedaços de fita e compramos barbante para prender o “cartaz” no pescoço, perguntei para um cliente: “O senhor tem carro? Não quer levar uma fita dessa para amarrar na antena, e protestar contra o aumento de salário dos deputados?”. Foi como seu eu dissesse: “O senhor não quer fazer um piercing no umbigo?”, ou “Posso dar uma lambida na sua orelha?”. Com cara de espanto e aversão, disse: “Não, eu não faço essas coisas”. “Mas o senhor não acha absurdo o aumento?”. “Eu não amarro nada no meu carro. Olha, eu não gosto de política, nem voto em ninguém, não me meto com nada disso”. Como se “isso” fosse um lugar que ele pudesse escolher ir ou não; algo do qual fosse possível manter distância de verdade...

-- Mas o senhor paga! Não vai fazer nada?
-- Não tem jeito, o jeito é ir embora do Brasil.
-- Então tá, o senhor vai embora do Brasil?.
-- Ah, se desse eu ia.
-- Então não faz nada, e fica pagando!

Desagradável. Se é assim que pretendo abordar as pessoas, melhor voltar pra casa. Ainda demos uma volta no quarteirão, desanimadíssimas, eu mais do que elas. A pequena, quem diria, inventou de sair gritando: “Au-men-to não! Quem paga é a população!”. Conseguimos dar 3 ou 4 fitas para amarrar no braço, duas para os carros.

Quem sabe na terça-feira, com o apoio de centrais sindicais, da Associação Comercial de São Paulo (que faz uma campanha contra a carga tributária), grupos de estudantes, o fórum da população de rua, sei lá, a gente consegue reunir algumas dezenas de pessoas na frente do Municipal. Ou pendurar uma faixa preta gigante na parede de algum prédio... Ou colher milhares de assinaturas... Nossa, eu aqui num mau humor desgraçado, e a impressão que dá é que ninguém tá nem aí. Não a ponto de fazer alguma coisa, qualquer coisa que seja. Ainda bem que não é verdade, é só impressão...

Do blog da Soninha

Um comentário:

Defensor disse...

Saudações
Dia 20 vamos fazer uma blogagem coletiva contra o aumento dos salários., cujo título é "Não somos palhaços. Aumentem sua carga de trabalho, não seus salários"
Idéia do Rayol